quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Review: Argo, a vitória do estapafúrdio




Um estapafúrdio. Assim pode ser resumida a ideia colocada em prática para resgatar seis funcionários do governo americano no Irã refugiados na casa do embaixador canadense, refúgio encontrado após militantes contrários a uma intervenção dos Estados Unidos no país invadirem a embaixada. O especialista em exfiltração da CIA Tony Mendez (Ben Afleck) aposta o resgate no que ele resume como a "menos pior" das opções: rodar um filme no Oriente Médio, a ficção científica Argo que dá nome ao filme, e retirar os reféns do país como se estes fossem os produtores da película.          

O plano excêntrico e muito singular colocado em prática para dar cabo a uma das crises diplomáticas mais tensas das última décadas é o ponto de partida do longa que Ben Afleck (Gênio Indomável) dirige e protagoniza. A construção da tensão pré-resgate começa em um clima leve, quase no clima de comédia, graças as atuações competentes de Alan Arkin (Pequena Miss Sunshine) e John Goodman (O Grande Lebowski), já que eles são os produtores responsáveis por elaborar toda a estrutura necessária para dar a produção de Argo credibilidade - desde a negociação do roteiro até uma concorrida coletiva de imprensa - afinal, o filme pode não existir, mas é preciso convencer todos ao redor de que se está diante do novo Star Wars.

Em contraponto somos expostos a rotina de enclausuramento e desgaste dos refugiados na Embaixada Canadense. O núcleo, capitaneado pelo veterano da televisão Vicor Garber (Alias) no papel do embaixador, consegue representar as alterações entre medo, coragem, esperança e covardia que impactam o grupo durante os períodos de incertezas e da iminência de serem descobertos pelo serviço secreto iraniano. A euforia pela chegada de Mendez ao país é logo aplacada pela ousadia e extravagância do plano do agente - interpretado de forma sóbria e competente por um Ben Afleck que toma cada vez mais consciência de que precisa ser comedido e respeitar seus limites como ator.

Esses mesmos limites ainda são desconhecidos no que diz respeito ao astro como diretor. Depois de convencer com Atração Perigosa (The Town), Afleck ousou ao tratar de um tema delicado e complexo de uma forma ora leve, ora extremamente tensa. A visita dos americanos ao centro de Teerã enquanto fingem uma pesquisa de campo para o filme fictício sufoca protagonistas e espectadores.

Tão estapafúrdia quando o plano apresentado em Argo seria há alguns anos a previsão de que um astro decadente e, que parecia cada vez mais distante do ganhador do Oscar de melhor roteiro por Gênio Indomável em 1997, se tornaria um dos nomes mais promissores de sua geração sentado na cadeira de diretor. 

Tão estapafúrdia quanto precisa.