Saio no horário.
Em um trabalho em que oito horas é apenas um símbolo, significa que tenho um dia ímpar em mãos.
Em um trabalho em que folga é usada para consumir o trabalho dos outros, significa que terei tempo para ficar em frente à TV assim que chegar em casa.
Pensamento positivo para que o ônibus não demore, que o trem não demore, que o outro ônibus não demore.
Sincronismo perfeito. Tempo de sobra para ir ao mercado, aquele da esquina, sem filas.
Sem filas e sem luz. Em todo o bairro.
Sem luz, sem crédito? - Bendito gerador.
Em casa, sem gerador.
Tempo de sobra, tempo livre. Luz não falta, o sol entra pela janela.
Horário de verão. Cansaço de inverno.
Era tão divertido, mesmo nas baixas temperaturas de julho, mesmo morando em um balneário deserto. Afinal, ligávamos um lampião a gás e esperávamos o sono chegar entre risos, reclamações e um gibi do Chico Bento.
A tecnologia me deixou mimado. Afinal, nem me importei tanto com o banho gelado, mas ver o PS3, a TV e o modem sem energia me faz querer jogar o computador pela janela, só que ele ainda tem três horas de bateria.
Poderia estar correndo. Aproveitando os parcos raios de sol para ler.
Mas quero reclamar.
E reclamar sem poder acessar o Twitter me pareceu uma atividade tão exótica.