terça-feira, 6 de novembro de 2012

Na Ponta dos Dedos

Minhas mãos queimam.

Nada mais fica na ponta da língua.

Depois que inventaram a internet é na ponta dos dedos que ficam os nossos desabafos e declarações.

Já faz um bom tempo que passei a sentir um calor intenso nas mãos. Não fui ao médico, é claro, porque um hipocôndriaco que se preze não vai ao médico.

Hipocôndriacos vivem da especulação, mas isso é outro assunto. O que eu quero falar aqui é que minhas mãos precisam ir ao psicólogo.

Esbravejar pelos teclados, digitar frustrações e atacar desafetos - impunemente - é uma delícia.
Raiva e desgosto debruçadas sobre caracteres.

Mas palavras na rede são um insulto ao ato nobre de insultar alguém olho no olho ou despachar desafetos com um pretenso sarcasmo.

Atividades que necessitam de muito mais coragem, causam muitos mais estragos e que, prudentemente, não colocamos em prática diariamente.

Só que, uma vez descoberta a válvula de escape digital, as palavras ficam na ponta dos meus dedos e no último instante eu as contenho, por uma contrariada obrigação moral.

Minhas mãos queimam.

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